por FGV – EAESP
O artigo apresenta como a agenda de adaptação à mudança do clima se desenvolveu nas últimas décadas e discute os desafios e fronteiras a serem cruzados nas políticas públicas e estratégias empresariais para que capacidades adaptativas sejam fortalecidas, especialmente junto a territórios e populações em situações críticas de vulnerabilidade.
É no século XXI, entretanto, que a civilização moderna alcança o ápice de um modelo de desenvolvimento caracterizado por uma população majoritariamente urbana em cidades marcadas pelo crescimento não planejado, por paisagens pautadas por desigualdades socioeconômicas abissais e pela supressão e encerramento dos ecossistemas. Como consequência desse modelo, seis dos limites planetários já foram ultrapassados em 2023, entre os quais a mudança do clima.
O principal problema enfrentado, conforme Ghosh, é a exclusão de eventos climáticos extremos da literatura contemporânea e a naturalização dos desastres climáticos, que oculta as causas humanas subjacentes e perpetua desigualdades sociais.
A época do Antropoceno entra para a história não apenas como o período em que a ação humana causa transformações irreversíveis nos sistemas geofísicos da Terra, mas também como o período em que a humanidade sofre impactos avassaladores, com o aumento exponencial da frequência e intensidade de eventos extremos, derivados de suas próprias ações. Enquanto mais de 890 mil pessoas foram afetadas (mortas, desabrigadas, feridas, enfermas e desaparecidas), apenas em 2022, por tragédias relacionadas a chuvas no Brasil, não é por acaso que desastres climáticos são denominados “naturais”. A naturalização dos efeitos de uma economia carbono-intensiva e concentradora de riquezas exclui da pauta transformações sistêmicas e válida discursos em prol de medidas pontuais de prevenção e resposta a desastres de fim de tubo, ou seja, após o impacto ocorrido, comumente atribuídas à Defesa Civil. No entanto, populações e territórios historicamente vulnerabilizados são desproporcionalmente afetados pela mudança do clima, em uma espiral de desigualdade e impacto.
Coodernador do Centro de Estudos em Sustentabilidade da FGV EAESP (FGVces)
Mario Monzoni
Pesquisadora do Centro de Estudos em Sustentabilidade da FGV EAESP (FGVces)
Mariana Nicolletti